Pe. Danilo Pinto destaca a importância do cuidado e do encontro com o outro na contemporaneidade
No lançamento da Semana de Mobilização Científica (SEMOC), realizada pela Universidade Católica de Salvador (UCSal), em conjunto com a Semana de Mobilização e Conscientização (SMC) da Rede Excelsior. Durante a mesa de abertura, o Pe. Danilo Pinto diretor da Fundação Dom Avelar e da Rede Excelsior, em sua fala, ofereceu uma reflexão profunda sobre o tema central do evento: “Cuidar do outro para cuidar do mundo”. O discurso trouxe à tona a relevância do encontro com a alteridade e o papel da escuta atenta para superar as barreiras sociais e culturais da atualidade.
O Diretor iniciou sua fala trazendo a figura mitológica de Proteu, divindade grega conhecida pela capacidade de metamorfose, para ilustrar o desconforto e a resistência que muitas vezes sentimos diante da necessidade de transformação provocada pelo encontro com o outro. ” Proteu tinha o conhecimento do futuro e dos segredos do mundo, mas sempre se recusava a compartilhá-los. Para obter suas respostas, era necessário capturá-lo; porém, ao ser confrontado, ele se transformava em um sem-número de formas, de animais ferozes a criaturas assustadoras, na tentativa de escapar”. Segundo o Diretor, uma das características mais comuns da sociedade contemporânea é o medo da mudança e do encontro com o diferente. “Encontrar-se com o outro exige transformação”, afirmou ele, enfatizando que este processo, embora doloroso, é fundamental para o cuidado com o próximo e com o mundo.
Ainda na mesma linha de pensamento, o Diretor destacou as dinâmicas impostas pelas inteligências artificiais e as “bolhas de informação” criadas pelos algoritmos, “As IAs, por meio das operações algorítmicas, criam bolhas de informação que reforçam as visões de mundo que já possuímos, eliminando a contribuição da alteridades. O outro deixa de existir na conjuntura de uma vida que perde gradativamente a sua porosidade, na medida em que vamos nos ensurdecendo uns aos outros”. O encontro com o outro, disse ele, “é cansativo”, em referência ao filósofo Byung-Chul Han, que reflete sobre a “Sociedade do Cansaço”. No entanto, esse cansaço, argumentou o Diretor, não pode ser motivo para evitarmos a convivência ou a transformação,“O encontro com o outro é, assim, uma experiência ética, onde somos chamados a romper com nossa bolha de isolamento e assumir algum grau de comprometimentopor este que nos convoca à mudança”. Enfatizou, citando também o Papa Francisco, que em suas mensagens de comunicação insiste na necessidade de “ouvir o outro” como um primeiro passo para romper com a indiferença globalizada.
No contexto da comunicação, o Diretor ressaltou a relevância do rádio como meio de proximidade e encontro, destacando que sua estrutura baseada na voz e na escuta o torna uma ferramenta poderosa para superar a polarização e fortalecer o cuidado mútuo. “O rádio pode ser um instrumento de comunicação qualificado, rompendo o cansaço do excesso de informações narcisísticas”, afirmou, ligando a função social do meio à temática da SEMOC e SMC.
O Pe. Danilo Pinto concluiu com uma convocação e pedido à comunidade acadêmica e aos profissionais da comunicação, “que estes dias da SEMOC e SMC nos tornem capazes de enfrentar a dor e a beleza do encontro, com aqueles que são diferentes. Que cuidemos uns dos outros, aceitando a transformação que o outro pode nos provocar, permitindo-nos nesta abertura curarmos a nós próprios, o outro e o mundo de suas feridas, no horizonte de umacultura da paz.
Essa reflexão marcou o início de uma semana que promete intensas discussões sobre o papel da comunicação e da ciência no cuidado do próximo e do mundo, promovendo uma cultura de paz e escuta atenta em tempos de desafios sociais e tecnológicos.
Por Danilo Alves