Com a morte do papa Francisco, aos 88 anos, a Igreja Católica entra em um dos períodos mais delicados e simbólicos de sua tradição: a chamada Sede Vacante. Esse termo em latim significa literalmente “sede vazia” e representa o intervalo entre a morte de um papa e a eleição de seu sucessor.​

Durante esse tempo, a administração da Sé Apostólica — ou seja, a sede da Igreja de Roma — passa a ser conduzida por uma figura de grande responsabilidade e discrição: o Camerlengo. Atualmente, quem ocupa essa função é o cardeal Kevin Farrell, irlandês naturalizado americano, nomeado em 2019 após o falecimento do cardeal francês Jean-Louis Tauran .​

O guardião da transição

Entre suas atribuições mais simbólicas, o Camerlengo é o responsável por constatar oficialmente a morte do pontífice. Segundo a tradição, isso ocorre com três toques leves de um martelo de prata na testa do papa, enquanto se pronuncia seu nome. Após a constatação, o falecimento é comunicado formalmente aos fiéis e inicia-se uma sequência de protocolos centenários.​

O Camerlengo deve, então, lacrar os aposentos do papa e seu escritório no Vaticano, evitando que documentos ou objetos sejam retirados ou alterados até que um novo pontífice tome posse. Ele também coordena os rituais fúnebres, em diálogo com o Colégio de Cardeais, organizando detalhes como o traslado do corpo, os atos litúrgicos e o acesso ao público — especialmente se o papa falecido não tiver deixado instruções específicas.

Administração e vigilância

Além das funções cerimoniais e religiosas, o Camerlengo assume temporariamente a administração dos bens e propriedades do Vaticano, incluindo o Palácio Apostólico (residência oficial do papa), o Palácio de Latrão e o Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, conhecido por ser a casa de verão dos pontífices. Durante a Sede Vacante, Farrell atua como uma espécie de administrador interino, mas sempre em acordo com o Colégio dos Cardeais, que supervisiona todas as ações tomadas nesse período .​

O conclave: o segredo mais bem guardado da Igreja

A escolha do novo papa ocorre no conclave — uma reunião secreta entre os cardeais do mundo todo, realizada na Capela Sistina, no Vaticano. O Camerlengo tem um papel fundamental nesse processo: garantir que todo o ambiente esteja seguro e livre de aparelhos eletrônicos ou câmeras ocultas, mantendo a confidencialidade absoluta do que acontece dentro da capela. Uma varredura prévia é feita sob sua supervisão antes que as portas se fechem e o processo de votação tenha início. Assim como os demais cardeais com direito a voto, Kevin Farrell também participa do conclave e contribui na escolha do novo líder da Igreja Católica .​

Quem é Kevin Farrell?

Nascido em Dublin, Irlanda, em 2 de setembro de 1947, Kevin Joseph Farrell é uma figura de destaque na Igreja Católica. Ele ingressou na Congregação dos Legionários de Cristo em 1966 e foi ordenado sacerdote em 1978. Farrell obteve licenciaturas em Filosofia e Teologia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino e um mestrado em Administração de Empresas pela Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. Após servir como bispo auxiliar em Washington e bispo de Dallas, foi nomeado pelo Papa Francisco como prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida em 2016 e criado cardeal no mesmo ano. Em 14 de fevereiro de 2019, foi nomeado Camerlengo da Santa Romana Igreja

Um tempo de espera e esperança

A morte de um papa não é apenas o fim de um pontificado, mas o início de um novo ciclo para mais de 1,3 bilhão de católicos ao redor do mundo. Durante a Sede Vacante, a Igreja vive um tempo de introspecção, oração e expectativa. E cabe ao Camerlengo garantir que tudo siga com serenidade, fidelidade à tradição e respeito à figura daquele que acaba de partir.